Capítulo 20 Comparação entre dois grupos
O fluxograma abaixo apresenta a sequência de etapas para a escolha do teste estatístico mais adequado na comparação entre dois grupos, considerando o tipo de comparação entre os dois grupos (pareada ou não pareada) e a verificação da normalidade dos dados.
Exemplos didáticos para comparação entre dois grupos são mostrados a seguir.
20.1 Teste t pareado
O teste t (pareado ou não pareado) é um teste paramétrico, por isso, antes de aplicar o teste, recomenda-se verificar a normalidade dos dados.
O teste t pareado avalia se há diferença entre as médias de dois conjuntos dependentes (ex: antes e depois em um mesmo grupo).
Hipóteses:
H₀: A média antes é igual à média depois (não há efeito).
H₁: A média antes é diferente da média depois (há efeito).
# Simulando dados: pressão antes e depois
set.seed(123)
antes <- rnorm(20, mean=120, sd=10)
depois <- antes + rnorm(20, mean=-5, sd=8) # espera-se uma redução média de 5
# Teste t pareado
t.test(antes, depois, paired = TRUE)
##
## Paired t-test
##
## data: antes and depois
## t = 3.644, df = 19, p-value = 0.001726
## alternative hypothesis: true mean difference is not equal to 0
## 95 percent confidence interval:
## 2.302671 8.517443
## sample estimates:
## mean difference
## 5.410057
No R, fazer o teste t pareado é muito fácil. Você só precisa usar uma linha: t.test(antes, depois, paired = TRUE)
.
Basta colocar os seus dois conjuntos de dados (por exemplo, as medidas antes e depois) e escrever paired = TRUE
para avisar ao R que os dados são do mesmo grupo em dois momentos.
Assim, o R faz todo o cálculo para você!
Ao realizar o teste t pareado no R, a saída apresenta várias informações importantes:
- t: Este é o valor do teste t calculado a partir dos dados. Ele indica o quanto a diferença média observada entre os grupos se afasta do que seria esperado se não houvesse diferença real.
- df: Significa “degrees of freedom” (graus de liberdade), que neste caso é igual ao número de pares menos 1 (aqui, 19).
- p-value: É a probabilidade de observarmos uma diferença igual ou maior que a encontrada, caso a hipótese nula (de que não há diferença) seja verdadeira. Um p-valor pequeno (por exemplo, menor que 0,05) indica que a diferença é estatisticamente significativa.
- alternative hypothesis: Mostra qual hipótese alternativa está sendo testada – neste caso, que a diferença média entre “antes” e “depois” é diferente de zero.
- 95 percent confidence interval: Indica o intervalo de valores no qual a verdadeira diferença média está com 95% de confiança. Aqui, podemos dizer que a diferença média entre os grupos está provavelmente entre 2,30 e 8,52.
- mean difference: É a diferença média observada nos dados, neste exemplo, aproximadamente 5,41.
Resumo:
O resultado sugere que há uma diferença significativa entre “antes” e “depois” (p = 0,0017), com a diferença média estimada em 5,41 unidades e um intervalo de confiança que não inclui zero.
Observação: Se p é maior que 0,05, não rejeitamos H₀, nesse caso a conclusão seria que não há evidência de diferença significativa.
20.2 Wilcoxon pareado
O teste de Wilcoxon para amostras pareadas é a alternativa não paramétrica ao teste t pareado, sendo utilizado quando os dados não seguem uma distribuição normal.
Hipóteses:
H₀: As distribuições dos pares são iguais (não há diferença entre antes e depois).
H₁: As distribuições dos pares são diferentes (há diferença entre antes e depois).
Formalmente, o teste verifica se a distribuição das diferenças entre os pares é simétrica em torno de zero. Quando essa condição de simetria é atendida, podemos interpretar o teste como uma comparação das medianas das duas situações (por exemplo, antes e depois).
Hipóteses:
H₀: A mediana das diferenças entre os pares é igual a zero (não há diferença entre antes e depois).
H₁: A mediana das diferenças entre os pares é diferente de zero (há diferença entre antes e depois).
Observação: Esta formulação das hipóteses em termos de mediana é válida quando as diferenças apresentam distribuição simétrica.
##
## Wilcoxon signed rank exact test
##
## data: antes and depois
## V = 179, p-value = 0.004221
## alternative hypothesis: true location shift is not equal to 0
Ao fazer o teste de Wilcoxon pareado no R, a resposta traz as seguintes informações:
- V: É o valor da estatística do teste de Wilcoxon, calculado a partir das diferenças entre os pares. Não precisamos interpretar esse número diretamente; ele serve para o cálculo do p-valor.
- p-value: É a chance de observarmos uma diferença igual ou maior que a encontrada, caso não exista diferença real entre os grupos. Se o p-valor for menor que 0,05, dizemos que há diferença significativa entre “antes” e “depois”.
- alternative hypothesis: Mostra qual hipótese alternativa foi testada. Nesse caso, que a posição central (mediana) dos dois momentos não é igual.
No R, por padrão, a função wilcox.test()
não mostra o intervalo de confiança para a mediana das diferenças.
No entanto, você pode pedir para calcular o intervalo de confiança usando o argumento conf.int = TRUE
:
##
## Wilcoxon signed rank exact test
##
## data: antes and depois
## V = 179, p-value = 0.004221
## alternative hypothesis: true location shift is not equal to 0
## 95 percent confidence interval:
## 2.291397 8.680443
## sample estimates:
## (pseudo)median
## 5.545154
Observações sobre o intervalo de confiança do teste de Wilcoxon
95 percent confidence interval:
O intervalo de confiança de 95% vai de 2,29 até 8,68. Isso significa que, com 95% de confiança, a verdadeira mediana da diferença entre “antes” e “depois” está entre esses valores.
Como esse intervalo não inclui o zero, temos mais uma indicação de que existe diferença significativa entre os dois momentos.
(pseudo)median:
O valor de 5,55 indica a mediana das diferenças observadas nos dados.
É chamado de “pseudo-median” porque, no teste de Wilcoxon, esse valor é uma estimativa robusta do deslocamento central entre os pares.
O termo “pseudo-median” aparece no teste de Wilcoxon porque, nesse teste, a maneira de calcular a “mediana” é um pouco diferente da mediana comum.
Mediana comum: É o valor do meio quando colocamos todos os números em ordem.
Pseudo-median: No teste de Wilcoxon, em vez de pegar só o valor do meio, o cálculo usa todos os pares possíveis de diferenças entre os grupos. Ele faz uma média especial desses valores do meio. Por isso, chama-se “pseudo” (uma “falsa” ou “quase” mediana).
20.3 Teste t não pareado
Se você olhar no fluxograma apresentado no início do capítulo, você verá que antes de executar o teste t para amostras não pareadas, é necessário executar o teste de variância.
20.3.1 Teste de variância
É um pré-requisito para o teste t não pareado Verifica se as variâncias de dois grupos não pareados podem ser consideradas iguais ou não.
Hipóteses:
H₀: As variâncias dos dois grupos são iguais.
H₁: As variâncias dos dois grupos são diferentes.
Interpretação:
Se p < 0,05, rejeitamos H₀ e concluímos que as variâncias são diferentes
No teste t acrescentado o argumento
var.equal=FALSE
ouvar.equal=F
.
Se p > 0,05, consideramos as variâncias iguais.
No teste t acrescentado o argumento
var.equal=TRUE
ouvar.equal=T
Importante:
O argumento var.equal
dentro de t.test()
define qual versão do teste será utilizada: se var.equal = TRUE
, o teste assume variâncias iguais; se var.equal = FALSE
, é usada a correção de Welch, que não assume homogeneidade. A escolha incorreta desse parâmetro pode comprometer a validade do p-valor obtido, afetando a conclusão do teste.
Explicação didática
Imagine que você quer comparar as médias de duas turmas. A Turma A tem poucos alunos e notas parecidas; a Turma B tem muitos alunos, mas as notas variam bastante.
Se você comparar as médias assumindo que ambas têm a mesma variação, o resultado pode ser injusto.
A correção de Welch resolve isso: ela ajusta o cálculo do teste para considerar que as turmas são diferentes — olhando para a variação e o tamanho de cada grupo separadamente. Assim, o teste fica mais confiável quando os grupos são desiguais.
O teste t para amostras não pareadas compara médias de dois grupos independentes.
Hipóteses:
H₀: A média do grupo A é igual à média do grupo B.
H₁: As médias dos grupos são diferentes.
# Simulando dados
set.seed(456)
grupoA <- rnorm(30, mean=50, sd=7)
grupoB <- rnorm(30, mean=55, sd=7)
# Teste de variância (pré-requisito do t independente)
var.test(grupoA, grupoB)
##
## F test to compare two variances
##
## data: grupoA and grupoB
## F = 1.8842, num df = 29, denom df = 29, p-value = 0.09347
## alternative hypothesis: true ratio of variances is not equal to 1
## 95 percent confidence interval:
## 0.896797 3.958627
## sample estimates:
## ratio of variances
## 1.884167
##
## Two Sample t-test
##
## data: grupoA and grupoB
## t = -2.4453, df = 58, p-value = 0.01753
## alternative hypothesis: true difference in means is not equal to 0
## 95 percent confidence interval:
## -8.1306016 -0.8110054
## sample estimates:
## mean of x mean of y
## 51.6222 56.0930
Descrição dos resultados do teste F para comparação de variâncias
- F = 1.8842: Este é o valor da estatística F, que compara as duas variâncias. Ele é calculado dividindo a variância do grupo com maior variância pela variância do outro grupo.
- num df = 29, denom df = 29: Esses são os graus de liberdade, relacionados ao tamanho de cada grupo (n - 1), neste caso ambos com 30 participantes.
- p-value = 0.09347: Este é o valor de significância. Ele mostra a probabilidade de observarmos uma diferença entre as variâncias tão grande quanto a encontrada, caso as variâncias dos grupos fossem realmente iguais. Como o p-valor é maior que 0,05, não podemos dizer que as variâncias são diferentes de forma significativa.
- alternative hypothesis: true ratio of variances is not equal to 1: Isso mostra que o teste está verificando se as variâncias são diferentes (não iguais).
- 95 percent confidence interval: 0.896797 a 3.958627: Com 95% de confiança, o verdadeiro valor da razão entre as variâncias está entre aproximadamente 0,90 e 3,96. Como esse intervalo inclui o valor 1, não há diferença significativa entre as variâncias.
- ratio of variances = 1.884167: Esse é o valor observado da razão entre as variâncias dos dois grupos. O grupo com maior variância tem uma variância cerca de 1,88 vezes maior que o outro grupo.
Resumo:
O teste F mostrou que não há diferença estatisticamente significativa entre as variâncias dos grupos A e B, pois o p-valor é maior que 0,05 e o intervalo de confiança inclui o valor 1.
Descrição dos resultados do teste t para duas amostras não pareadas
- t = -2.4453: Este é o valor da estatística t, que indica o quanto as médias dos grupos A e B diferem em relação à variação dos dados.
- df = 58: São os graus de liberdade do teste, relacionados ao tamanho das amostras.
- p-value = 0.01753: O p-valor representa a probabilidade de encontrar uma diferença igual ou maior que a observada entre as médias, caso realmente não haja diferença entre os grupos. Como o p-valor é menor que 0,05, podemos considerar que há diferença estatisticamente significativa entre as médias de grupoA e grupoB.
- alternative hypothesis: true difference in means is not equal to 0: O teste verifica se existe diferença entre as médias dos dois grupos (hipótese alternativa de diferença).
- 95 percent confidence interval: -8.13 a -0.81: Com 95% de confiança, a diferença real entre as médias está entre -8,13 e -0,81. Como esse intervalo não inclui o zero, reforça a indicação de diferença significativa.
- mean of x (grupoA): 51.62
mean of y (grupoB): 56.09
As médias dos grupos mostram que o grupo B teve, em média, um valor maior que o grupo A.
Resumo:
O teste t indicou que existe uma diferença estatisticamente significativa entre as médias dos grupos A e B. O grupo B apresentou média maior que o grupo A, e essa diferença dificilmente ocorreu ao acaso.
20.4 Wilcoxon não pareado
O teste é também conhecido como Wilcoxon-Mann-Whitney. É a alternativa não paramétrica ao t independente para comparar dois grupos independentes.
Hipóteses:
H₀: As distribuições dos grupos são iguais.
H₁: As distribuições dos grupos são diferentes.
##
## Wilcoxon rank sum exact test
##
## data: grupoA and grupoB
## W = 316, p-value = 0.04789
## alternative hypothesis: true location shift is not equal to 0
Descrição dos resultados do teste de Wilcoxon para duas amostras não pareadas
- W = 316: Este é o valor da estatística de Wilcoxon, que representa a soma dos postos atribuídos aos valores dos grupos ao comparar suas distribuições.
- p-value = 0.04789: O valor de p indica a probabilidade de observar uma diferença igual ou maior entre os grupos, caso não exista diferença real. Como é menor que 0,05, isso sugere que há diferença estatisticamente significativa entre os grupos A e B.
- alternative hypothesis: true location shift is not equal to 0: O teste está avaliando se há diferença (deslocamento) entre as localizações centrais dos dois grupos (medianas diferentes).
Resumo:
O teste de Wilcoxon mostrou que há uma diferença estatisticamente significativa nas distribuições dos grupos A e B, indicando que eles provavelmente apresentam medianas diferentes.
20.5 Teste bilateral vs. teste unilateral
20.5.1 O que são?
- Teste bilateral (bicaudal ou two-sided):
- Verifica se há diferença em qualquer direção entre os grupos ou condições.
- Exemplo: “Será que a média do grupo A é diferente da média do grupo B?” (pode ser maior ou menor).
- Teste unilateral (caudal ou one-sided):
- Verifica se há diferença em uma direção específica.
- Exemplo: “Será que a média do grupo A é maior que a média do grupo B?” ou “Será que é menor?”.
20.5.2 Formulação das hipóteses
- Teste bilateral:
- Hipótese nula (\(H_0\)): não há diferença (\(\mu_A = \mu_B\))
- Hipótese alternativa (\(H_1\)): há diferença (\(\mu_A \neq \mu_B\))
- Teste unilateral (maior):
- Hipótese nula (\(H_0\)): \(\mu_A \leq \mu_B\)
- Hipótese alternativa (\(H_1\)): \(\mu_A > \mu_B\)
- Teste unilateral (menor):
- Hipótese nula (\(H_0\)): \(\mu_A \geq \mu_B\)
- Hipótese alternativa (\(H_1\)): \(\mu_A < \mu_B\)
20.5.3 Influência no cálculo do p-valor
Teste bilateral:
O p-valor representa a probabilidade de encontrar um resultado tão extremo quanto o observado em ambas as direções (para mais ou para menos).
É mais rigoroso, pois considera desvios para cima e para baixo.Teste unilateral:
O p-valor considera apenas uma direção (maior ou menor).
Geralmente, o p-valor do teste unilateral é a metade do bilateral, para o mesmo dado e direção, tornando o teste mais sensível a detectar diferenças naquela direção, mas exige justificativa teórica para ser usado.
20.5.4 O que muda nas funções t.test()
e wilcox.test()
Nas duas funções, você controla o tipo de teste pelo argumento alternative
:
- Teste bilateral (padrão):
alternative = "two.sided"
- Teste unilateral (maior):
alternative = "greater"
- Teste unilateral (menor):
alternative = "less"
Exemplo:
# Teste t bilateral (padrão)
t.test(x, y, alternative = "two.sided")
# Teste t unilateral (x maior que y)
t.test(x, y, alternative = "greater")
# Teste de Wilcoxon unilateral (x menor que y)
wilcox.test(x, y, alternative = "less")
Ou seja:
- O argumento alternative
define se o teste é bilateral ou unilateral.
- Isso altera a formulação das hipóteses, o cálculo do p-valor e a interpretação do resultado.
20.6 Exercício 1
Comparação da velocidade dos Pokémons verdes e amarelos
Baixe o banco de dados
Use o banco de dados: Pokemon.csv
Importe o arquivo Pokemon.csv para o RStudio.Pergunta do exercício
Teste se existe diferença significativa entre a velocidade (speed) dos Pokémons verdes (green) e amarelos (yellow).Formulação das hipóteses de acordo com os testes
Hipótese nula (\(H_0\)):
Hipótese alternativa (\(H_1\)):
Nível de significância
Considere \(\alpha = 0,05\).Passos para executar o teste adequado
- Separe os dados dos Pokémons de cor verde e de cor amarela.
- Verifique a normalidade dos dados de velocidade de cada grupo (gráfico QQ).
- Escolha o teste mais apropriado:
- Se as duas amostras seguirem distibuição Normal → teste de variância → teste t
- Se uma das amostras não seguir distibuição Normal → teste de Wilcoxon
- Execute o teste, compare o p-valor com \(\alpha\) e conclua
- Separe os dados dos Pokémons de cor verde e de cor amarela.
Conclusão
- Se \(p\)-valor < 0,05: rejeite a hipótese nula e conclua que há diferença significativa nas velocidades.
- Se \(p\)-valor ≥ 0,05: não rejeite a hipótese nula e conclua que não há diferença significativa nas velocidades.
Resposta Posit.cloud
20.7 Exercício 2
Considere a tabela de resultados publicados no artigo Resposta da Pressão Arterial ao Esforço em Adolescentes: Influência do Sobrepeso e Obesidade:
Grupo | GSO Meninas (n = 24) | GE Meninas (n = 24) | p |
---|---|---|---|
Idade (anos) | 12,1 ± 1,3 | 12,0 ± 1,5 | 0,86 |
Peso (kg) | 59,3 ± 12,9 | 38,8 ± 9,3** | <0,0001 |
Estatura (m) | 1,53 ± 0,09 | 1,46 ± 0,10* | 0,02 |
IMC (kg/m²) | 25,2 ± 3,8 | 17,9 ± 2,3** | <0,0001 |
RT/S (mm) | 0,85 ± 0,19 | 1,43 ± 0,40** | <0,0001 |
PAS repouso (mmHg) | 114 ± 12 | 108 ± 10 | 0,07 |
PAD repouso (mmHg) | 66 ± 6 | 67 ± 8 | 0,51 |
PAM repouso (mmHg) | 82 ± 7 | 81 ± 8 | 0,67 |
FC (bpm) | 84 ± 10 | 87 ± 9 | 0,34 |
Teste t-Student para amostras independentes; p ≤ 0,05; **p ≤ 0,01.
Diferenças entre médias do grupo de sobrepeso e obesos vs eutróficos.
IMC - índice de massa corporal (peso/estatura²);
RT/S - relação tríceps/subescapular;
PAS - pressão arterial sistólica;
PAD - pressão arterial diastólica;
PAM - pressão arterial média;
FC - frequência cardíaca média.*
Contexto:
A tabela acima apresenta características antropométricas e hemodinâmicas de meninas do grupo de sobrepeso/obesidade (GSO) e do grupo eutrófico (GE). Os autores utilizaram o teste t de Student para amostras independentes.
Pergunta:
Escolha uma variável da tabela e formule as hipóteses nula e alternativa para a comparação entre os grupos GSO e GE. Depois, descreva a conclusão dos autores com base no valor de p apresentado na tabela.
Exemplo de resposta:
Variável escolhida: Peso (kg)
Hipóteses:
Hipótese nula (H₀):
As médias de peso (kg) dos grupos GSO e GE são iguais.Hipótese alternativa (H₁):
As médias de peso (kg) dos grupos GSO e GE são diferentes.
Nível de significância: α = 0,05
Valor de p na tabela: p < 0,0001
Conclusão:
Como o valor de p é menor que 0,05, rejeita-se a hipótese nula. Portanto, os autores concluem que existe diferença estatisticamente significativa entre as médias de peso dos grupos GSO e GE, sendo o peso significativamente maior no grupo GSO.
Você pensou nisso? O peso é a variável intrínseca à comparação, pois define os grupos.
20.8 Exercício 3
O artigo Sintomas de estresse pré-competitivo em atletas adolescentes de handebol utilizou como instrumento a Lista de Sintomas de Estresse Pré-competitivo Infanto-juvenil (LSSPCI), uma escala do tipo Likert (De Rose Jr., 1998). A LSSPCI contém 31 sintomas, para os quais cada atleta responde em uma escala de 1 (nunca) a 5 (sempre) sobre a frequência com que cada situação ocorreu nas 24 horas anteriores à competição. Os escores dos sintomas são somados para cada atleta, resultando em um escore total de estresse. Analise os resultados da Tabela 1 do artigo:
Tabela 1. Médias, desvios-padrão, valores p da diferença de médias e mediana dos sintomas de estresse medidos pela LSSPCI em atletas adolescentes de handebol, segundo o sexo (n = 97)
Sintomas de estresse – LSSPCI | Meninos | Meninas | Valor pᵃ |
---|---|---|---|
Meu coração bate mais rápido que o normal | 2,2 ± 1,0 (2,0) | 2,5 ± 0,9 (2,5) | 0,1 |
Suo bastante | 2,5 ± 1,2 (2,0) | 2,4 ± 1,3 (2,0) | 0,4 |
Fico agitado (a) | 3,0 ± 0,9 (3,0) | 3,2 ± 1,3 (3,0) | 0,5 |
Fico preocupado (a) com críticas das pessoas | 2,9 ± 1,5 (3,0) | 2,6 ± 1,4 (2,0) | 0,2 |
Sinto muita vontade de fazer xixi | 2,0 ± 1,3 (1,0) | 2,0 ± 1,2 (2,0) | 0,7 |
Fico preocupado (a) com meus adversários | 2,7 ± 1,2 (3,0) | 2,9 ± 1,4 (3,0) | 0,5 |
Bebo muita água | 2,5 ± 1,2 (3,0) | 2,9 ± 1,5 (3,0) | 0,3 |
Roo (como) as unhas | 2,5 ± 1,9 (2,0) | 2,1 ± 1,5 (1,0) | 0,2 |
Fico empolgado (a) | 3,5 ± 1,3 (4,0) | 3,6 ± 1,5 (4,0) | 0,6 |
Fico aflito (a) | 2,3 ± 1,7 (2,0) | 2,8 ± 1,3 (3,0) | 0,1 |
Tenho medo de competir mal | 2,6 ± 1,4 (3,0) | 2,9 ± 1,4 (3,0) | 0,4 |
Demoro muito para dormir | 2,8 ± 2,4 (3,0) | 2,3 ± 2,0 (2,0) | 0,05 |
Tenho dúvidas sobre minha capacidade de competir | 2,4 ± 1,8 (2,0) | 2,4 ± 1,2 (2,0) | 0,7 |
Sonho com a competição | 2,4 ± 1,2 (2,0) | 1,9 ± 1,3 (1,0) | 0,04 |
Fico nervoso (a) | 3,1 ± 1,6 (3,0) | 3,3 ± 1,2 (3,0) | 0,6 |
Fico preocupado (a) com o resultado da competição | 3,1 ± 1,4 (3,0) | 3,7 ± 1,4 (4,0) | 0,1 |
Minha boca fica seca | 2,4 ± 1,3 (2,0) | 2,3 ± 1,4 (2,0) | 0,6 |
Sinto muito cansaço no fim do treino | 2,6 ± 1,3 (2,0) | 2,7 ± 1,3 (2,0) | 0,9 |
A presença de meus pais na competição me preocupa | 3,1 ± 1,7 (2,0) | 2,6 ± 1,6 (2,0) | 0,1 |
Falo muito sobre a competição | 3,0 ± 1,5 (3,0) | 3,2 ± 1,3 (3,0) | 0,6 |
Tenho medo de perder | 2,9 ± 1,4 (3,0) | 3,1 ± 1,4 (3,0) | 0,4 |
Fico impaciente | 2,4 ± 1,1 (2,0) | 2,6 ± 1,3 (2,5) | 0,5 |
Não penso em outra coisa a não ser na competição | 2,2 ± 1,2 (2,0) | 2,7 ± 1,4 (2,0) | 0,2 |
Não vejo a hora de competir | 3,2 ± 1,4 (3,0) | 3,3 ± 1,4 (3,0) | 0,7 |
Fico emocionado (a) | 1,8 ± 1,3 (1,0) | 2,3 ± 1,3 (2,0) | 0,1 |
Fico ansioso (a) | 3,6 ± 1,2 (3,0) | 3,4 ± 1,5 (4,0) | 0,7 |
No dia da competição acordo mais cedo do que o normal | 3,1 ± 1,7 (3,0) | 3,0 ± 1,6 (3,0) | 0,8 |
Tenho medo de decepcionar as pessoas | 2,7 ± 1,4 (3,0) | 3,0 ± 1,5 (3,0) | 0,3 |
Sinto-me mais responsável | 3,1 ± 1,3 (3,0) | 2,7 ± 1,3 (3,0) | 0,2 |
Sinto que as pessoas exigem muito de mim | 2,5 ± 1,4 (2,0) | 2,4 ± 1,4 (2,0) | 0,8 |
Tenho medo de cometer erros na competição | 3,4 ± 1,4 (3,0) | 3,6 ± 1,3 (4,0) | 0,4 |
Média ± DP (mediana); ᵃ Teste de Wilcoxon não pareado; p < 0,05.
Com base na Tabela 1, qual sintoma de estresse apresentou diferença estatisticamente significativa entre meninos e meninas segundo o teste de Wilcoxon? Explique como interpretar esse resultado considerando o contexto da escala LSSPCI.
20.9 Exercício 4
O artigo Qualidade de vida de estudantes de Psicologia avaliou a qualidade de vida de acadêmicos de psicologia e correlacionou-a com fatores sociodemográficos. Participaram 310 alunos de psicologia que responderam a um questionário sociodemográfico e ao The Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36) para avaliar a qualidade de vida. Veja os resultados do teste t na Tabela 2:
Tabela 2: Comparação entre gêneros nas dimensões de qualidade de vida
Dimensões | Variável | Média | DP | t | p-valor |
---|---|---|---|---|---|
Capacidade funcional | Masculino | 89,74 | 14,49 | 2,44 | 0,119 |
Feminino | 86,95 | 11,6 | |||
Aspectos físicos | Masculino | 79,74 | 25,84 | 0,76 | 0,383 |
Feminino | 75,82 | 31,84 | |||
Dor | Masculino | 74,93 | 22,05 | 4,33 | 0,038 |
Feminino | 68,26 | 22,00 | |||
Estado geral de saúde | Masculino | 75,21 | 20,36 | 1,15 | 0,284 |
Feminino | 72,32 | 17,67 | |||
Vitalidade | Masculino | 61,38 | 22,47 | 1,50 | 0,222 |
Feminino | 57,92 | 18,57 | |||
Aspectos sociais | Masculino | 71,34 | 27,61 | 0,06 | 0,804 |
Feminino | 70,43 | 24,31 | |||
Aspecto emocional | Masculino | 63,16 | 40,67 | 0,38 | 0,536 |
Feminino | 59,51 | 39,85 | |||
Saúde mental | Masculino | 70,55 | 19,97 | 3,05 | 0,082 |
Feminino | 65,7 | 18,80 |
Com base na Tabela 2, em qual dimensão da qualidade de vida foi observada diferença estatisticamente significativa entre estudantes do sexo masculino e feminino? O que esse resultado sugere sobre a experiência dos alunos nesses grupos?